O Judaísmo é uma religião monoteísta, isto é, que crê que há um só Deus: Javé. Esta afirmação pode ser aceita como correta a respeito do Judaísmo, mas há uma longa história até se poder afirmar isto. E diversos são os elementos implicados nesta história. Os judeus são herdeiros de textos sagrados antigos, de antes mesmo de serem chamados de judeus, quando se chamavam de hebreus e israelitas. Estes textos testemunham uma história muito interessante do conceito de Deus nesta tradição religiosa. Neles, um dos nomes mais antigos e recorrentes para a divindade é Elohim. Esta palavra é o plural de um termo genérico el ou ilu, palavra usada para divindade entre os povos semitas. Nesta linha, a palavra poderia ser traduzida simplesmente como deuses, mas por vezes é interpretada como “o Deus dos deuses”, numa compreensão claramente monoteísta que não está necessariamente presente nos textos antigos. Estas mesmas fontes antigas – isto é, o texto bíblico – utilizam outros termos para a divindade, como El Shaddai (que poderia ser traduzido como Deus das alturas ou das planícies), El Berith (Deus das alianças), El Sebbaoth (Deus dos exércitos), Adonai (o Senhor) e Javé (Yahweh, YHWH). Seriam divindades diferentes ou apenas termos diferentes para a mesma divindade? A partir do ponto de vista religioso posterior, poder-se-ia falar em variações para o mesmo nome. Mas a partir do texto isto não é tão claro assim, dado que há também cultos e rituais bastante diversificados: Assim há rituais com oferendas de frutos da terra, o que remete a cultos agrícolas; há outros com sacrifícios de animais, remetendo a cultos pastoris; há cultos feitos nos lugares altos; há rituais feitos sobre um amontoado de pedras, etc. Esta diversidade de nomes, de costumes, de rituais dá a entender que ocorreu um processo de unificação religiosa de longa duração. Neste, há dois elementos que parecem ser importantes: a centralização e unificação do culto na cidade de Jerusalém, com a construção do Templo, símbolo de unidade de culto e doutrina; e a ascensão da figura de Javé como o nome de Deus a ser utilizado neste processo de unificação. Se o Templo de Jerusalém representa o esforço pela monolatria, isto é, a unidade de culto em torno de uma divindade; a ascensão de Javé representa o esforço que irá culminar claramente no monoteísmo judaico. Javé, nome de origem provavelmente madianita, será interpretado primeiramente como o Deus que fez aliança com o povo de Israel e o salvou da escravidão do Egito, para mais tarde ser compreendido como o Deus criador de todo o universo, assumindo assim a feição monoteísta professada pelo Judaísmo até nossos dias.
Volney J. Berkenbrock, O mundo religioso (Editora Vozes).