Se tudo foi criado por Deus, como explicar que existe o mal? Qual a origem do mal? Esta questão é discutida em muitas tradições religiosas e filosóficas. A resposta que o Judaísmo antigo deu a esta pergunta foi entender o mal como um ato originado pela ação humana e não por Deus, que criou tudo. E tudo bom. Assim, na teologia judaica antiga, tudo é bom por princípio, pelo fato de ter sido criado por Deus. Neste modo de pensar, o mal não está presente como princípio, mas apenas como ação histórica. Desta forma não há mal absoluto, o mal sempre é acontecimento, é relativo. Não se encontra na compreensão judaica antiga algum princípio personificado do mal, ou seja, não se encontra a ideia de um ser absolutamente mau. Com o passar do tempo, entretanto esta ideia da personificação do mal, ou seja, um princípio que é maldoso em si, que tem uma essência má, começa a aparecer no Judaísmo. A origem desta ideia da existência de um ser do mal por princípio pode ser percebida de duas vertentes dentro do Judaísmo. Por um lado há a influência religiosa de povos vizinhos, onde está presente a ideia de poderes malignos, de espíritos malignos, de seres do mal. Estes são, no Judaísmo, identificados muitas vezes então como os deuses dos povos vizinhos. Assim, Baal-Zebub é um exemplo típico: de divindade da saúde de Acaron (2RS 1,2), esta figura irá ser identificada como o chefe dos demônios (o Belzebu, de Mt 12,24). Também a figura de Lilit, uma deusa de origem babilônica, irá ser chamada de fantasma (Is 34,14) e Asmodeu (Tb 3,8), uma divindade de origem iraniana, irá ser chamada de “perverso demônio” no texto de Tobias. Assim, a Teologia judaica, ao combater as ideias religiosas de outros povos, vai classificar seus deuses como seres do mal. A outra vertente para a personificação do mal no Judaísmo é interna. Ela ocorre a partir da mudança de compreensão sobre Satanás (ou Satã). A palavra significa acusador ou adversário em hebraico. Nos textos judaicos mais antigos, este termo é usado para designar o promotor da acusação em tribunal. Mas não é entendido como antagonista de Javé, nem como princípio do mal. Somente mais tarde, nos séculos imediatamente antes de Cristo, é que este termo passa a ser usado para designar o mal, como polo oposto ao Deus Javé. Qual a origem de Satanás, como princípio do mal? Nos textos sagrados judaicos não se encontra explicação para isto. Os textos apócrifos judaicos irão abordar o tema e entender Satanás não como princípio, mas como criatura de Javé, criatura esta que teria se desvirtuado.
Volney J. Berkenbrock