Aquilo que geralmente é denominado Hinduísmo não é na verdade uma religião, mas sim um conjunto de tradições religiosas diferentes que ocorrem principalmente na Índia e em movimentos e grupos religiosos dali saídos. Por vezes estas tradições têm elementos em comum, mas em boa parte são grupos distintos, com compreensões diferentes e cada qual com seus próprios rituais e instituições. Desta forma, quando perguntamos por festas no Hinduísmo, temos que ter presente esta realidade diversificada. E dentro desta pluralidade de tradições, a ocorrência de festas é igualmente multiplicada. Há, porém alguns festivais que transcendem as tradições religiosas específicas e alcançam se não toda, mas boa parte da sociedade hindu. Um destes é o Diwali, o festival hindu das luzes. O nome do festival – também transcrito como Deepavali ou Deepawali – é oriundo de dipa (luz) e avali (fileira) e isto já aponta para o elemento central deste festival: acendem-se fileiras de lamparinas ou velas ou mini-lâmpadas, que deixam a paisagem especialmente brilhante. O festival das luzes é celebrado em praticamente toda a Índia e também em regiões para onde emigraram pessoas daquele país. Dado que se tornou uma festa de caráter nacional, ela não está ligada necessariamente a uma tradição religiosa específica, sendo festejada também por grupos que não são contados dentro das tradições hinduístas. Diversas religiões hinduístas criaram narrativas próprias para dar ao Diwali um significado religioso dentro de seu contexto. Assim, por exemplo, em tradições oriundas do norte da Índia, conta-se que o festival teria origem no retorno do nobre Rama e sua esposa à sua cidade, após 14 anos de exílio forçado, uma história que consta na epopeia hindu Ramayana. Dado que era noite quando voltaram, o povo teria acendido um corredor de lâmpadas para lhes sinalizar o caminho. E então, para esta tradição, ali estaria a origem do festival das luzes. Já em outra tradição, oriunda do sul da Índia, a origem do Diwali é apresentada como a comemoração que se teria feita para festejar a vitória de Krishna sobre o demônio Naraka, que mantinha aprisionadas 16 mil mulheres. E estas teriam sido libertas por Krishna. Há muitas outras narrativas e todas têm em comum o que parece ser a base do festival: a vitória da luz sobre as trevas, do bem sobre o mal. O festival é celebrado no mês de Kartika, no calendário hindu, o que corresponde a outubro ou novembro do nosso calendário gregoriano, e tem a duração de diversos dias. Se nos tempos antigos as fileiras de luzes eram compostas por lâmpadas de óleo acesas e enfileiradas nas janelas das casas, hoje a iluminação do Diwali pode abarcar edifícios inteiros ou árvores de parques, com milhares de mini-lâmpadas elétricas, formando um primoroso espetáculo.
Volney J. Berkenbrock